Liliana Teixeira Lopes

O festival de cinema DocLisboa, previsto para este mês de outubro, desenhou uma programação para “revisitar o que foi vivido para imaginar o porvir”, com filmes que “não fogem do conflito ou da memória”.

A 23ª edição do Doclisboa – Festival Internacional de Cinema tem uma nova direção, encabeçada por Hélder Beja, e conta com mais de 200 filmes a exibir entre 16 e 26 de outubro.

Este ano, o festival reparte-se pela Culturgest, Cinema São Jorge, Cinemateca Portuguesa e Cinema Ideal, com 211 filmes provenientes de 54 países, incluindo 31 obras portuguesas.

A competição portuguesa conta com uma dúzia de curtas e longas-metragens, entre as quais “A baía dos tigres”, de Carlos Conceição, “Andar com fé”, de Duarte Coimbra, ambos em estreia mundial, e “Fuck the Polis”, de Rita Azevedo Gomes, que venceu em julho o grande prémio do festival de Marselha (França).

O DocLisboa começa de olhos postos na Palestina, com o filme “With Hasan in Gaza”, do realizador palestiniano Kamal Aljafari, e que é “uma homenagem urgente à resistência em Gaza”, construída a partir de filmagens feitas em 2001, quando o cineasta, acompanhado de um amigo, Hasan Elboubou, procurava um antigo companheiro de prisão, com quem fora detido em 1989, ainda adolescente.

Da programação, o festival destaca “um momento incontornável” com a exibição de “As Brigadas Revolucionárias na Luta Contra a Ditadura (1970-1974)”, “filme documento de Luiz Gobern Lopes sobre os movimentos anti-fascistas durante o Estado Novo”.

A programação do DocLisboa também vai incluir a estreia da versão integral – com mais de cinco horas – de “O Riso e a Faca”, filme de Pedro Pinho premiado em Cannes (prémio de Melhor Atriz para Cleo Diára).

Na secção “Heart Beat” será apresentado “Memórias do Teatro da Cornucópia”, filme de Solveig Nordlund construído com recurso a imagens de arquivo de vários espetáculos da companhia fundada por Luís Miguel Cintra e Jorge Silva Melo, desde a sua origem, em 1973, até ao seu encerramento, em 2016.

Nesta mesma secção será prestada homenagem ao encenador norte-americano Robert Wilson, recentemente falecido, e ao compositor italiano Luciano Berio, nascido há cem anos, em outubro de 1925, além de filmes que convocam músicos como Jeff Buckley, Madonna, os Duran Duran e Andy Kaufman.

Em junho, o Doclisboa já tinha anunciado uma retrospetiva dedicada ao cinema documental do realizador norte-americano William Greaves, numa parceria com a Cinemateca Portuguesa.

Entre os convidados deste ano está o realizador canadiano Denis Côte, que apresenta o filme “Paul”, sobre um homem que “sofre de depressão e ansiedade social”, e que criou um personagem “profundamente submisso que faz sucesso no Instagram”.

O realizador franco-norte-americano Eugène Green estará na capital para apresentar, a fechar o Doclisboa, o filme “A Árvore do Conhecimento”, que conta uma fábula sobre um adolescente, um ogre e um pacto obscuro, “numa crítica nem sempre velada ao modo como a cidade se rendeu ao turismo”, descreve o festival.

https://doclisboa.org/