John le Carré escreveu sobre as relações humanas, a verdade e a mentira, tendo como ponto de partida a espionagem. Tinha 89 anos e morreu no sábado, vítima de pneumonia.

Morreu John le Carré. Tinha 89 anos.

De acordo com a agência do escritor, a Curtis Brown, o britânico David Cornwell, que assinava como John le Carré, morreu vítima de pneumonia, no sábado na Cornualha, no sul da Inglaterra. Era um dos autores mais proeminente de ficção de espionagem em inglês.

John le Carré trabalhou para os serviços de inteligência britânicos antes de levar a sua experiência para a ficção em obras como “A Toupeira”, “O Espião que Veio do Frio” e “O Fiel Jardineiro”, todos adaptados ao cinema ou à televisão, assim como, por exemplo, “O Gerente da Noite”, “A Casa da Rússia”, O Alfaiate do Panamá” ou “A Rapariga do Tambor”, entre outros.

David Cornwell trabalhou como espião antes de passar a escrever novelas que fizeram brilhar um género anteriormente ignorado pela crítica literária: o romance de espionagem.

David Cromwell ficou conhecido pelos leitores como John le Carré, porque os diplomatas britânicos apenas podiam publicar sob pseudónimo. O nome com que assinava, com sonoridade francesa foi escolhido “porque sim, porque soava bem”.

Com uma prosa lírica e concisa, le Carré conseguiu fundir a complexidade da espionagem na ficção literária, reunindo os ingredientes da traição, o compromisso moral e o preço a pagar por uma vida secreta, que captavam o interesse dos leitores.

Para le Carré, o mundo da espionagem “era uma metáfora para a condição humana”, comentou a escritora Margaret Atwood na rede social Twitter, acrescentando que a sua obra é fundamental para conhecer os meados do século XX. Escreveu , assim, sobre espionagem e espiões, mas na realidade falava sobre a verdade e a mentira no relacionamento entre as pessoas.

Nascido em Poole, na Inglaterra, a 19 de outubro de 1931, teve uma educação de classe média alta, frequentando a escola privada de Sherborne, estudou literatura alemã durante um ano, literaturas modernas na Universidade de Oxford, e fez o serviço militar obrigatório na Áustria, onde interrogava desertores dos países de leste.

A vida familiar foi bastante instável, já que o pai se associou a mafiosos e passou algum tempo na cadeia por fraude, enquanto a mãe abandonou a família quando David tinha apenas cinco anos, só vindo a contactá-la novamente aos 21 anos.

Esta incerteza e experiências extremas constantes levaram a que desenvolvesse uma consciência elevada sobre a superfície e a realidade da vida, e uma familiaridade com o secretismo que lhe foi útil para o futuro profissional.

Oficialmente trabalhava como diplomata, mas na realidade esse lugar era um disfarce, já que foi um operacional dos serviços secretos britânicos, trabalhando na Alemanha, durante a Guerra Fria.

A sua carreira como agente secreto terminou quando o duplo agente britânico Kim Philby revelou quem era ao KGB, obrigando-o a terminar o trabalho para o MI6.

John le Carré acabou por ser o responsável por transformar um género considerado “menor” em literatura de grande qualidade: o romance de espionagem.

Liliana Teixeira Lopes