Morreu na terça-feira, 1 de dezembro, um dos maiores pensadores de Portugal. Hoje é dia de luto nacional em sua homenagem.

O ensaísta Eduardo Lourenço, Prémio Camões e Prémio Pessoa, morreu, aos 97 anos, deixando uma vasta obra de “grande originalidade”, e a imagem do homem que permitia “a única reflexão inteligente sobre a política nacional”.

Professor, filósofo, escritor, crítico literário, ensaísta, interventor cívico, várias vezes galardoado e distinguido, Eduardo Lourenço foi um dos pensadores mais proeminentes da cultura portuguesa, sempre solicitado, mas que considerava não justificado o interesse das pessoas por ele: “Porque estou saindo. Eu nunca ocupei palco”, explicou, numa entrevista ao jornal Público, em 2017.

Esta terça-feira, 1 de dezembro, saiu de cena, mas deixa a marca da “grande originalidade” do seu pensamento – de acordo com a página a si dedicada, do Centro Nacional de Cultura -, e a imagem do ensaísta que permitia “a única reflexão inteligente sobre a política nacional”, como o definiu o poeta Herberto Helder, numa carta de 1978.

Outras definições o caracterizam, como a do ensaísta Eduardo Prado Coelho, que o considerava alguém para quem “a aventura do conhecimento e a aventura da vida se confundem permanentemente”, ou a de Fernando Namora, que, em 1986, escreveu que Eduardo Lourenço era “um dos espíritos mais sagazes, de uma fulgurância estonteadora, que o ensaísmo português alguma vez produziu”.

Apaixonado pela literatura, referia-se aos livros como “filhos” e dizia que “estar-se sem livros é já ter morrido”.

Mas foi sobretudo sobre a poesia, mais do que a prosa, que incidiram os seus ensaios, de Luís de Camões a Miguel Torga, passando por Fernando Pessoa.

O tema da Europa, e do lugar de Portugal na Europa, é recorrente na obra do autor, e “O Labirinto da Saudade”, de 1978, o seu trabalho mais celebrado, é o exemplo de “um discurso crítico sobre as imagens que de nós próprios temos forjado”, nas palavras do próprio autor.

Em 1988, o então professor jubilado da Universidade de Nice recebeu o Prémio Europeu de Ensaio Charles Veillon, pelo conjunto da obra, e, um ano depois, assumiu o cargo de conselheiro cultural junto da embaixada de Portugal em Roma, onde permaneceu até 1991.

Vários prémios se sucederam, com destaque para o Prémio Camões, em 1996, e o Prémio Pessoa, em 2011.

Em 2018, foi protagonista e narrador da sua própria história, num filme de Miguel Gonçalves Mendes, que teve antestreia a 23 de maio, dia em que Eduardo Lourenço completou 95 anos.

Intitulado “O Labirinto da Saudade”, o filme adapta a obra homónima de Eduardo Lourenço e traça uma viagem através da cabeça do pensador português, constituindo-se como uma “homenagem em vida” do realizador ao ensaísta.

Era conselheiro de Estado e o Presidente da República, Marcelo Rebelo e Sousa, decretou o dia de hoje de luto nacional.

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Liliana Teixeira Lopes