Com uma voz inconfundível, Portugal ficou mais pobre com a notícia da morte da atriz, aos 96 anos.

A atriz Carmen Dolores, que morreu na segunda-feira, em Lisboa, aos 96 anos, foi uma das precursoras do teatro independente, em Portugal, e tinha uma das “mais belas vozes” e “inconfundíveis presenças” em palco, segundo os seus pares.

Para a atriz, a importância estava nas personagens, na “ternura muito grande” que nutria por elas e, por isso, tinha sempre receio de as repetir, de as atraiçoar, a elas e ao público, como disse numa entrevista à agência Lusa, em 2005, quando pôs fim à carreira, com a interpretação de “Copenhaga”, de Michael Frayn, no Teatro Aberto, em Lisboa.

A carreira de 60 anos deu origem a três livros, e a sua voz manteve-se inconfundível, como destacou o escritor Fernando Dacosta, na apresentação do terceiro e último volume, “Vozes Dentro de Mim” (2018).

Carmen Dolores Cohen Sarmento Veres nasceu em Lisboa, em 22 de abril de 1924, e estreou-se aos 14 anos, a dizer poesia, na antiga Rádio Sonora, com o irmão, o ator António Sarmento. Foi a 19 de outubro de 1938, como recordou à agência Lusa, data que apontou como da sua “verdadeira estreia”.

A chegada aos palcos só aconteceria sete anos mais tarde, em 1945, com a Companhia Os Comediantes de Lisboa, residente no Teatro da Trindade, integrada no elenco da peça “Electra, a mensageira dos deuses”, de Jean Giraudoux, encenada por Francisco Ribeiro (Ribeirinho).

No cinema, protagonizou filmes como “A vizinha do lado”, de António Lopes Ribeiro, e “Amor de Perdição”, de Leitão de Barros.

A escrita surgiu na década de 1980, durante um período de permanência em Paris, quando escreveu o primeiro livro de memórias, “Retrato inacabado”.

Em julho de 2018, Carmen Dolores foi condecorada com as insígnias de Grande-Oficial da Ordem do Mérito, no âmbito de uma homenagem no Teatro da Trindade, que incluiu a estreia da peça “Carmen”. A atriz tinha já recebido o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, a Ordem de Sant’Iago de Espada e a Medalha de Ouro da Câmara Municipal de Lisboa.

Entre outros prémios, Carmen Dolores recebeu ainda, em 2016, o Prémio Sophia de Carreira, da Academia Portuguesa de Cinema, o Prémio António Quadros de Teatro, da Fundação António Quadros, a Medalha de Mérito Cultural, da Secretaria de Estado da Cultura (1991), o Prémio Gazeta da Casa da Imprensa, pelo desempenho de “Jardim Zoológico de Cristal”, de Tennessee Williams, e o Globo de Ouro por “Copenhaga”. A Federação Iberolatina Americana de Artistas deu-lhe o prémio carreira, em 1998.

Fonte: Lusa

Liliana Teixeira Lopes