Voluntários de estudo passaram noites em laboratório para terem sonhos lúcidos e, enquanto dormiam, tentaram realizar os movimentos de uma canção dos Queen.

Quantas vezes já tiveram um sonho lúcido, mas que, aos poucos, se foram esquecendo dos detalhes depois de acordarem?

Um grupo de cientistas tentou contornar essa questão com uma experiência em que os voluntários comunicaram o ritmo de uma música da banda britânica Queen enquanto sonhavam de forma lúcida.

A pesquisa publicada em julho na revista “Dreaming” foi divulgada pelo site IFLScience em setembro. O estudo é de autoria de uma equipa baseada na startup REMspace e liderada pelo fundador Michael Raduga.

Para esta experiência foram recrutados quatro voluntários que já tinham tido várias vezes sonhos lúcidos. Nesses tipos de sonhos, segundo os pesquisadores, “as pessoas mantêm a consciência e podem realizar ações predeterminadas enquanto dormem”.

Os participantes da pesquisa passaram até três noites no laboratório para tentar atingir o estado de sono necessário e completar a seguinte tarefa enquanto dormiam: comunicar o ritmo da introdução da música “We Will Rock You”, hit da banda Queen.

Antes de dormir, os voluntários foram treinados a fazer tensão nos músculos dos braços ao ritmo de “We Will Rock You”. Assim que chegassem ao estado de sonho lúcido, eles deveriam repetir os movimentos aprendidos. E isso aconteceu.

Como os humanos normalmente sofrem de paralisia ao dormirem (com exceção de quem é sonâmbulo), os investigadores tiveram que detectar os movimentos que os participantes tentavam fazer, mesmo que os voluntários não conseguissem mover-se fisicamente. Para isso, a equipa usou eletromiografia, uma técnica que detecta o sinal elétrico de um impulso nervoso enviado a um músculo.

Ao longo do estudo, os cientistas presenciaram sete sonhos lúcidos, em seis dos quais os voluntários tentaram tocar o ritmo “We Will Rock You” usando os músculos dos braços. No entanto, os sinais eram muito fracos na sua maioria: houve apenas três episódios em que o ritmo musical pôde realmente ser distinguido, seja numa gravação, seja em tempo real.

Apesar do estudo ser pequeno, para os autores, “os resultados comprovam o conceito de que as pessoas podem transferir impulsos de eletromiografia rítmicos do sonho lúcido”, o que poderia ser potencialmente útil para transferir sons ou música dos sonhos para a realidade.

Como quem sonha lúcido às vezes cria músicas originais nesse estágio do sono, “seria possível transferir essas composições para a realidade”, segundo a equipa.

Apesar dos cientistas terem começado com uma melodia simples como a de “We Will Rock You”, Raduga conta que não há limitações significativas na complexidade da música que pode ser transferida.

A startup REMspace espera agora lançar um dispositivo que será capaz de ajudar as pessoas a entrar em sonhos lúcidos e gravar melodias de seus sonhos, além de outros “recursos secretos”, já em 2024.

Fonte: Revista Galileu

Liliana Teixeira Lopes