2019 foi equilibrado. É habitual os grandes filmes começarem a estrear perto do final do ano para poderem ser incluídos nas listas de candidatos aos prémios mais importantes do cinema no ano seguinte.

Mas desta vez, as coisas foram bastante equilibradas e houve grandes obras a estrear ao longo dos 12 meses de 2019.

Começando pelo produto nacional, há três filmes que saltam à vista: “A Herdade”, de Tiago Guedes; “Technoboss”, de João Nicolau; “Vitalina Varela”, de Pedro Costa.

São filmes muito diferentes uns dos outros, mas que carregam consigo uma mensagem não só de crítica e retrato social, mas também de beleza. A forma como são realizados, na captação das imagens, ângulos e afins (não querendo alongar-me por razões demasiado técnicas) fazem com que estas obras se destaquem.

Na lista de nacionais poderiam ainda caber obras como “Chuva é cantoria na aldeia dos mortos”, de João Salaviza e Renée Nader Messora, ou “Terra Franca”, de Leonor Teles, mas prefiro juntá-los à lista dos documentários que continuam, apesar de todas as dificuldades, a marcar a sua presença.

Nesta categoria, são de destacar ainda o mais recente de Nanni Moretti “Santiago, Itália”, “Amazing Grace” de Sydney Pollack e Alan Elliott. Tirando este último que é um documento histórico musical, todos os outros têm uma forte mensagem, de algum modo política.

Nos filmes estrangeiros, desta vez de ficção, há obras que ainda foram feitas no ano de 2018, como “A Favorita”, de Yorgos Lanthimos, que apesar de isso, foi durante 2019 que mais chamou à atenção, tendo mesmo feito (e continua a fazer) parte de listas de candidatos e vencedores de prémios. Uma sátira bem feita e diferente, em que o riso não é assim tão fácil… é inteligente.

Destaque ainda para filmes como “Parasitas”, de Bong Joon-ho, “Bacurau”, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles e “Dor e Glória”, de Pedro Almodóvar, trabalhos que têm colhido louvores da crítica internacional.

Neste grupo encaixa também “Joker”, de Todd Phillips, que apesar se relacionar com o universo da banda desenhada da DC Comics, é uma obra à parte, um drama bem estruturado e adulto, que não obriga a que se seja fã da BD para se apreciar este filme.

Sou ainda parcial e “Era uma vez em… Hollywood”, o mais recente trabalho de Quentin Tarantino, bem ao seu estilo, mas que não deixa de ter momentos de brilhantismo que o tornam num dos melhores de 2019.

Cada vez mais o streaming ocupa o seu lugar no quotidiano do cinéfilo. Mas a televisão ainda tem um papel, principalmente os canais temáticos, assim como existem aqueles que ainda não abandonaram definitivamente formatos como o DVD ou o Blu-ray.

Em 2019 houve um filme que se destacou, não só porque criou uma grande espetativa, mas também porque avivou a discussão que tem tido lugar nestes últimos anos, sobre se obras exibidas em plataformas de streaming, devem ou não entrar nas listas de candidatos a prémios do cinema: “The Irishman”, de Martin Scorsese. O realizador rendeu-se ao formato, até porque não só lhe permite chegar a muito mais gente, como também a fazer um filme bem longo, que pode ser visto por partes, se o utilizador / espectador assim o quiser.

“O Irlandês”, nalguns sítios, para “calar as bocas” dos mais críticos, estreou em sala de cinema, mas por cá, foi diretamente para a Netflix.

Apesar de longo, o que requer alguma paciência, um aspecto que pode ser contornado, é uma obra bem à Scorsese que apesar de não surpreender propriamente, consegue arrebatar. A contribuição dos atores nas suas excelentes interpretações também ajuda a tornar este num dos filmes de 2019.

Mas as séries de ficção continuam a ser “rainhas”.

Nas que foram novidades do ano, estão “Chernobyl”, que tem sido considerada como a melhor da HBO, tendo relegado completamente para segundo plano aquela que se previa que iria centrar as atenções em si, mas que acabaria por cair um pouco no esquecimento, até porque acabou também por decepcionar os fãs: “A Guerra dos Tronos”.

Outra novidade a chamar à atenção foi “Unbelievable” da Netflix, uma história “Inacreditável” mas real, que na reta final de 2019, tem feito parte das listas de candidatos a prémios.

Mas são de assinalar também os regressos de qualidade de outras séries já com temporadas anteriores, como “Peaky Blinders”, “Cardinal”, “True Detective”, “Terror”, “The Son”, “The Handmaid’s Tale”, “Trapped”, “Caçadores de Mentes” e “Ozark” – séries que começaram bem e que apesar de terem mais do que uma temporada, têm conseguido reinventar- se.