Era o escultor que reinventou a identidade portuguesa.

João Cutileiro foi um dos grandes nomes das artes do século XX. Morreu na madrugada de hoje aos 83 anos, vítima de complicações provocadas por um enfisema pulmonar, confirmou a família ao jornal “Publico”.

Era o escultor de Évora por excelência. Possuía uma oficina onde, nos anos 1980, um importante grupo de jovens escultores completou a sua formação.

João Cutileiro nasceu em Pavia, no concelho de Mora, em 1937. O artista era irmão do diplomata e escritor José Cutileiro, que morreu em maio de 2020. O pai, médico, mantinha em Lisboa um círculo de amigos onde se contava António Pedro, membro do Grupo Surrealista de Lisboa que, em 1946, levou o jovem João para trabalhar no seu atelier.

Por influência de Paula Rego, e a exemplo de outros artistas portugueses da sua geração, segue para Londres, onde se inscreve na Slade School of Arts, tendo sido aí aluno de Reg Butler. Em 1961, com Paula Rego e Joaquim Rodrigo, entre outros, participa na II Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, o que de certo modo assinala a divulgação da sua obra junto de um meio atento e atualizado que existia na altura nalguns círculos artísticos da capital.

Durante a década de 60, as exposições sucedem-se em Portugal. O escultor mantém-se fiel ao registo figurativo. Em 1970 regressa a Portugal e instala-se em Lagos, onde realiza em 1973 a sua escultura mais célebre, um Dom Sebastião de encomenda pública, mas que, pela primeira vez, quebrava por completo com os códigos da escultura oficial do Estado Novo, o que gerou polémica na época.

Um Monumento ao 25 de Abril, que retoma os modelos fálicos dos menires alentejanos, localizado no topo do Parque Eduardo VII, em Lisboa, e que foi encomendado por ocasião dos 25 anos da revolução portuguesa; e um Lago das Tágides que constrói para a Expo’98, e que hoje se mantém no Parque das Nações, em Lisboa, fazem partre do conjunto de monumentos públicos mais conhecidos assinados por este escultor.

Doou recentemente toda a sua obra ao Estado Português.

Fonte: TSF / Público / Lusa

Liliana Teixeira Lopes