Foi um dos documentários mais vistos na Netflix, no ano passado.

Liliana Teixeira Lopes

“The Social Dilemma” é um documentário que denuncia a manipulação a que estamos sujeitos ao usar as redes sociais, recorrendo aos testemunhos de alguns dos programadores que as desenvolveram, é realizado por Jeff Orlowski e chegou à primeira posição dos conteúdos mais vistos da Netflix em Portugal.

O filósofo francês Paul Virilio, desaparecido há dois anos, profetizou o desmoronamento do mundo produzido pela aceleração digital, explicando como a aceleração da realidade nos impede de ver a realidade. À medida que nos damos conta da catástrofe informática que começa a empurrar o mundo para o caos, sentimo-nos também nós transferidos do campo geográfico para o ciberespaço, uma “colónia virtual” onde vivemos “uma vida de substituição”. Neste mundo sem fronteiras da comunicação de massas e das redes sociais, de acordo com Virilio, “vivemos o dilema do prisioneiro, presos nas teias do imediatismo e do mediatismo”, com a aceleração do tempo a impedir-nos de ver a diferença entre o verdadeiro e o falso, o que produz uma erosão do próprio sentido de si, da soberania do indivíduo.

Em “The Social Dilemma”, os especialistas assumem um certo embaraço e falam em nome de um dever de expor as ferramentas que ajudaram a criar. Incluem Justin Rosenstein, o criador do botão “like” do Facebook, Tim Kendall, antigo responsável de monitorização do Facebook, Guillaume Chaslot, que criou a infraestrutura de recomendação de vídeos do YouTube, o lendário cientista informático Jaron Lanier e Tristan Harris, um antigo funcionário da Google, que tinha como função especular sobre as questões de ética implicadas na ação da empresa.

“The Social Dilemma” prova ser um contributo decisivo para um debate que nos interessa a todos. E surge num momento chave, a poucas semanas das presidenciais nos EUA, e numa altura em que milhões de pessoas se vêem obrigadas a trabalhar a partir de casa devido à pandemia, forçadas a usar os meios digitais, o que levou a um desequilíbrio ainda mais profundo em termos económicos, com as grandes empresas tecnológicas a serem, até ao momento, os grandes beneficiários desta catástrofe.